Por enquanto, o verde ainda domina a paisagem. Na beira
das estradas que conduz ao interior do Estado, a plantação apresenta-se
resistente ao clima seco e às temperaturas elevadas. Um viajante mal
informado tomaria como verdadeira a assertiva de que o inverno foi bom.
Não é verdade. Basta um olhar mais atento e uma visita nas comunidades
rurais para descobrir que estamos vivendo um dos piores períodos de
estiagem nos últimos anos. "O mês passado, em termos de precipitações,
foi o pior nos últimos 25 anos. Tivemos índice zero de chuva em vários
municípios. Por isso estamos vivendo essa situação de emergência", diz
Antônio Carlos Magalhães Alves, coordenador de agropecuária da
secretaria de Estado da Agricultura, da Pecuária e da Pesca (Sape).
A afirmação do servidor público é corroborada pelo depoimento de
pequenos agricultores e pecuaristas. No assentamento Boa Sorte,
localizado no município de Acari, região Seridó, Antônio Ambrósio dos
Santos, 55 anos, conta que "ainda tem fé em Deus que as coisas vão
melhorar este ano". Em fevereiro, Antônio plantou meio hectare com
milho. A pouca chuva que caiu naquele mês não foi o suficiente. Com a
estiagem no mês seguinte, a roça não vingou. "Está com tempo que não
vejo uma seca dessa, meu filho. Perdi tudo que plantei. Agora é esperar
por Deus que venha uma chuvinha nesses dias", completou.
A estiagem afeta agricultores e criadores de gado. Em Pilões,
município distante 390 quilômetros de Natal, o açude que abastece a
cidade está com pouco mais de 10% de sua capacidade total. Por causa
disso, moradores da zona rural temem os próximos dias. No sítio Volta, o
pecuarista Raimundo Cícero de Oliveira, 52 anos, vê a pequena barragem
secar. Quase não há água. O gado que antes era motivo de orgulho para o
criador, começa a preocupá-lo. "Quando acabar essa água da barragem, o
que vou fazer? Como vou matar a sede desse gado? Não vejo solução. O
jeito vai ser meter bala na cabeça dos bichos e ir embora, deixar tudo
para trás", desabafa emocionado.
O homem de rosto marcado pelo tempo e com a experiência que a vida
difícil no campo lhe proporcionou conta que esse tem sido um ano
difícil. "Nunca vi uma coisa dessas. Em 93, teve uma seca mas choveu
forte em um dia que compensou. Mas agora a situação está pior. Tomara
que Deus mande chuva", diz. Devido ao cenário atual, conhecido como
"seca verde", o Governo do Estado, através do Decreto de nº 22.637,
declarou, na última quinta-feira, situação de emergência em 139
municípios, o que corresponde a 82% dos 167 do RN. Durante o período do
decreto dura 90 dias, passível de prorrogação por igual período. Órgãos
do Sistema Nacional de Defesa Civil, sediados no Estado, ficam
autorizados a prestar apoio suplementar aos municípios afetados pelo
desastre natural, mediante prévia articulação com a Codec.